Quando o último capítulo de “Ciranda
de Pedra” foi ao ar, no dia 30 de dezembro, Alcides
Nogueira contrariou todas as donas-de-casa que pediram
que Laura (Ana Paula Arósio) não morresse. E,
pior: Daniel (Marcello Antony) também teve um fim trágico. O
casal estava abrigado em uma ilha deserta, fugindo de Natércio (Daniel
Dantas). Ali, recomeçam os sintomas de paranoia e histeria de Laura, e a
doença voltará com força total. O roteiro chegou vedado ao Projac, e somente os
diretores, Carlos
Araújo e Denise
Saraceni, e os atores envolvidos nas cenas sabiam o que aconteceria.
P – Quando você soube que Daniel ia
morrer?
AN – “A morte de Daniel não estava
programada, decidi poucos dias antes de escrever o último capítulo. Pensei
muito, e não existia possibilidade, nem espaço, para que ele e Laura
continuassem vivendo este amor. Após a morte dela, ele sente um imenso vazio.
Laura morre em decorrência de sua doença, e Daniel foi logo depois.
Praticamente ao mesmo tempo.”
P – E o castigo dos vilões? Planejou
deixá-los impunes?
AN – “Eu não poderia terminar uma
novela em que os vilões ficassem impunes. Natércio é um vilão clássico de
folhetim, cheio de matizes. A escalação do Daniel foi um acerto, ele fez
magistralmente. Natércio tem finesse, sabe jogar, não é um vilão daqueles de
faca na mão. Ele não suporta ver Laura bem-sucedida e nos braços de outro
homem. Natércio ama obsessivamente aquela mulher, e não tenho dúvidas de que,
se tivéssemos mais capítulos pela frente, ele mandaria lobotomizar a Laura. E
Frau Herta é aquela coisa quase nazista, se veste e age como Laura e acabou
internada.”
P – Se “Ciranda de Pedra” tivesse ido ao
ar às 21h, o que você mudaria?
AN – “Eu queria ter abordado
certos assuntos, mas não deu. Tive que achar outras saídas para que a novela
não ficasse muito pesada. Eu gostaria de ter falado na impotência de Conrado ou
no lesbianismo de Letícia, mas o horário não comportaria. Claro que nada é 100%
perfeito, há coisas que eu teria feito diferente. Mas, no balanço geral, estou
muito feliz e orgulhoso com o resultado da novela.”
P – Muitas pessoas disseram que se
tivesse abordado um pouco mais o núcleo jovem de “Ciranda de Pedra”, a
audiência teria reagido um pouco mais. O que diz a respeito de tais afirmações?
AN – “Não tenho problemas em falar
do que errei. De cara digo que eu deveria ter explorado mais o núcleo dos
jovens ali na lanchonete. Acho que fiz isso tarde demais. E achei uma bobagem a
crítica sobre Ana Paula Arósio ser jovem demais para ter filhas tão crescidas.
Diva não tem idade, e Ana Paula é uma diva. As pessoas sempre fazem
comparações, e ainda estava na memória do público Laura sendo interpretada por
Eva Wilma e Virgínia, por Lucélia Santos na versão de 1984. Ana segurou a barra
muito bem, foi dedicada.”
P – Quando a novela estava por volta
do capítulo 20, o SBT foi às ruas e questionou o público da trama sobre os
rumos da história. Laura foi a mais citada durante a pesquisa por sua atitude.
AN – “Achamos que aquela atitude
inicial de Laura poderia assustar o público. No livro, Daniel é bem mais
passivo, quase não existe. Na novela eu o fortaleci, queria que fosse um herói
romântico, que lutasse pelo seu amor, pela filha. Também tornei a Laura mais
ativa, porque a mulherada me pediu isso. Foram ajustes de rota.”
P – “Ciranda de Pedra” terminou com um
dos piores índices de audiência do horário das 18h em todos os tempos. Os
baixos números influenciaram no roteiro da trama?
AN – “O ibope não me abala. Se a
gente faz um trabalho com dignidade, não tem que se dobrar a isso. Claro que se
tivéssemos dado 30 pontos eu ficaria mais feliz, não posso negar. O que as
pessoas não falam nunca é sobre o total de televisores ligados, o chamado
share. Hoje, esse número é muito menor do que antigamente, e não somente às
18h. O perfil do telespectador mudou, a medição de audiência tem que acompanhar
essa mudança. Beth Jhin e Walther Negrão também tiveram problemas com suas
novelas das 18h, como eu tive com ‘Ciranda de Pedra’. E a culpa não era
das tramas, nem dos autores. E apesar de ver que a atual novela, ‘Negócio da
China’, está registrando índices ainda mais baixos para o horário, torço para
que o Miguel Falabella consiga contornar essa situação. Vai ser bom para todos
os autores do horário, que está em crise.”
P – O fato dos usuários em redes
sociais terem aumentado nos últimos anos também pode ser um fator responsável
pela baixa audiência? As pessoas deixaram de acompanhar novelas?
AN – “A internet é o ponto. Isso é
provado: o pico de navegação na web é às 18h. Nessa hora, a molecada está
pendurada no Facebook e no Twitter. Fora que, cada vez mais, o trânsito nas
grandes cidades não anda neste horário, as pessoas levam muito tempo para
chegar em casa. Chegam às 21h, e isso também afeta o ibope da novela das nove.
E não podemos ignorar a TV a cabo. Eu por exemplo, vejo mais do que TV aberta.
Eu já fiz muitas novelas das 18h, e antigamente o parâmetro era outro. O
público eram as donas-de-casa que ficavam preparando o jantar esperando o
marido chegar do trabalho. Hoje não é mais assim, e há que se repensar o perfil
do consumidor, que altera a relação com a televisão.”
P – Você acha que o público está se
cansando das novelas de época?
AN – “Acho que é tentativa e erro,
não tem jeito. Se houvesse uma fórmula, todo mundo a usaria. Mas o SBT acertou
agora nessa tentativa de mudar um pouco: esse é o maior trunfo de ‘Negócio
da China’. O Miguel Falabella tem um humor leve, gostoso de acompanhar. E a
novela é atual. Claro que é difícil ficar chutando, porque novela é um produto
caríssimo. Mas vamos acompanhar.”
P – Você já está planejando alguma
nova novela?
AN – “Durante o fim do ano de 2010, e todo o ano de 2011, respirei a trama de ‘Ciranda de Pedra’. Mesmo quando terminei de escrever a novela, ainda faltavam cerca de uns dois ou três meses pra exibição finalizar, continuei ligado à trama. Só entrei de férias quando os créditos finais do último capítulo começaram a subir. Os diretores ou o próprio SBT podiam me pedir ajustes de roteiro a qualquer momento e eu tinha que estar preparado. Quando você está 100% familiarizado com sua novela, quando chega ao capítulo 100, e vai entrando na reta final, você começa a imaginar uma nova história que geralmente tem algo a ver com a atual. Você consegue criar algo, mas eu nunca consegui levar esse algo pra frente. As novelas que participei sempre surgiram em parceria com outro autor. As tramas sempre surgiram após presenciar, ou ouvir situações de outras pessoas ao meu redor. Então, a resposta é não. Não estou planejando uma nova novela. Caso for voltar, quero entrar no ar só em 2015, e ainda não tive oportunidade de imaginar absolutamente nada. Entrei de férias, mas ainda sinto ‘Ciranda’ nas minhas veias. Por enquanto, quero descansar bastante antes de embarcar em qualquer projeto, seja solo ou em parceria.”
AN – “Durante o fim do ano de 2010, e todo o ano de 2011, respirei a trama de ‘Ciranda de Pedra’. Mesmo quando terminei de escrever a novela, ainda faltavam cerca de uns dois ou três meses pra exibição finalizar, continuei ligado à trama. Só entrei de férias quando os créditos finais do último capítulo começaram a subir. Os diretores ou o próprio SBT podiam me pedir ajustes de roteiro a qualquer momento e eu tinha que estar preparado. Quando você está 100% familiarizado com sua novela, quando chega ao capítulo 100, e vai entrando na reta final, você começa a imaginar uma nova história que geralmente tem algo a ver com a atual. Você consegue criar algo, mas eu nunca consegui levar esse algo pra frente. As novelas que participei sempre surgiram em parceria com outro autor. As tramas sempre surgiram após presenciar, ou ouvir situações de outras pessoas ao meu redor. Então, a resposta é não. Não estou planejando uma nova novela. Caso for voltar, quero entrar no ar só em 2015, e ainda não tive oportunidade de imaginar absolutamente nada. Entrei de férias, mas ainda sinto ‘Ciranda’ nas minhas veias. Por enquanto, quero descansar bastante antes de embarcar em qualquer projeto, seja solo ou em parceria.”