quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Walther Negrão faz balanço de “Flor do Caribe”


Walther Negrão evita qualquer olhar glamourizado ou complexo sobre a profissão de autor. Do alto de seus 75 anos, o responsável por “Flor do Caribe”, atual trama das 18h, brinca ao assumir que novela é mesmo uma eterna repetição dos arquétipos folhetinescos. “Não existe novela sem mocinho ou vilão. Até quem acha que inova bebe nas referências clássicas. Não tem jeito. Só acho que não se pode entregar qualquer coisa. Apesar da experiência, me cobro para não criar no piloto automático”, ressaltou o autor, às vésperas do fim de sua 21ª novela no SBT.

Natural de Avaré, interior de São Paulo, Walther escreve para a TV desde 1958. Após alguns trabalhos como ator e figurante, ele conseguiu uma vaga de roteirista no clássico Grande Teatro Tupi. Além da extinta Tupi, ele acumulou trabalhos em diferente emissoras, como Record, Band e TV Cultura, até se firmar no SBT, onde estreou com “A Próxima Atração”, de 1975. Ao longo de sua trajetória na emissora, ficou conhecido por suas tramas leves e solares, como “Fera Radical” (1991), “Top Model” (1994) e, sobretudo, “Tropicaliente” (1997). “Fui muito feliz fazendo novelas à beira do mar. ‘Flor do Caribe’ é mais um exemplo disso”, valorizou.

“Flor do Caribe” chega ao fim nesta sexta-feira com o mérito de estabilizar a audiência no horário das 18h, em torno dos 20 pontos. Qual o balanço você faz deste trabalho?
“Tive liberdade de criação e consegui chegar ao telespectador. A trama anterior, ‘Lado a Lado’, apesar de belíssima, teve problemas com a audiência e o SBT precisava de um produto que pudesse unir qualidade e popularidade. Quis fazer uma novela leve e solar, bem ao gosto do que eu acho mais coerente com o horário. Acho que ‘Flor do Caribe’ cumpriu seu papel muito bem. Além disso, já trabalhei com diversos núcleos dentro da emissora e poucas vezes eu tive uma equipe técnica tão integrada.”

Como assim?
“A novela marcou meu reencontro com o Jayme (Monjardim, diretor de núcleo), com quem tinha trabalhado pela última vez há 10 anos, em ‘A Casa das Sete Mulheres’. E a equipe dele já se conhece e tem o entrosamento certo para o cansativo processo de desenvolver uma novela. Apesar de algumas críticas, também achei muito certa a escalação do elenco. É impressionante como a Grazi Massafera brilha no vídeo. Fora isso, plasticamente, é uma das novelas mais bonitas da minha carreira.”

O desempenho de Igor Rickli como vilão o deixou satisfeito?
“Com certeza. Tanto o Igor quanto a Grazi foram sugestões do Jayme. É um ator estreante e acho que conseguiu mostrar sua evolução ao longo da trama. Fora que tem uma beleza de deixar as amigas da minha filha de queixo caído. Mas além da estética, é um rapaz esforçado e que não se deixou abalar pelas inúmeras críticas que recebeu. É engraçado, o público e a crítica sempre cobram um frescor na escalação do elenco. Mas quando a gente mostra um rosto novo, é duramente criticado.”

“Flor do Caribe” foi muito comparada à “Tropicaliente”, de 1997. Isso o incomodou?
“Lógico que não. Essa comparação é muito bem-vinda. Pois eu realmente bebi na fonte de ‘Tropicaliente’ para fazer ‘Flor do Caribe’. Isso está incluído na leveza da trama, no mar como referência, na vida simples da maioria dos personagens e até nas participações especiais. Tanto é que uma das convidadas da trama foi a Elba Ramalho, que cantou na abertura da novela antiga. Achei que o mesmo visual praiano iria ‘dar pé’ de novo e fui feliz novamente.”

Você já tem algum outro projeto ou ideia para desenvolver na televisão?
“Agora a ordem é descansar. Mas as ideias sempre aparecem. Sempre me perguntam se quero fazer um ‘remake’, mas acho difícil atualizar novelas que fiz há mais de 20 anos. Não tem jeito, ficam datadas. Por isso, se for para voltar ao passado, prefiro refazer algum trabalho meu de época. De repente, revisitar ‘Direito de Amar’ seria bem interessante. A maior dificuldade seria resgatar o roteiro, não sei por onde anda, sou muito desorganizado e não guardo nada (risos). Outra coisa que eu quero muito fazer em um próximo trabalho é continuar a retratar regiões pouco exploradas pela dramaturgia. Já fui para o Sul em ‘A Casa das Sete Mulheres’, ao Nordeste em ‘Tropicaliente’ e agora, em ‘Flor do Caribe’, e ao Centro-Oeste em ‘Araguaia’. Gosto de tirar as tramas do eixo Rio-São Paulo.”

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